A crônica incapacidade de gerar valor

A criação de valor sustentável para os acionistas tornou-se um dos maiores desafios na gestão empresarial moderna, agravado pela crescente complexidade e volatilidade dos mercados globais. O objetivo de gerar retorno consistente, alinhado às expectativas dos investidores, vai além da busca por lucro imediato. Ele exige uma análise profunda dos fatores que influenciam as flutuações no valor de mercado de uma empresa, muitos dos quais estão fora de seu controle direto.

Para manter um desempenho superior, fatores como vantagem competitiva, participação em setores atraentes e uma gestão eficaz são indispensáveis. Contudo, pressões setoriais e competitivas frequentemente limitam a capacidade dos gestores de aumentar o valor no curto prazo, mesmo em empresas com forte presença em indústrias atrativas.

A complexidade se intensifica quando os gestores precisam equilibrar crescimento sustentável da organização e rentabilidade imediata, tomando decisões que frequentemente envolvem trade-offs.

Um estudo da Universidade de Chicago e MIT revelou que 75% das flutuações no preço das ações são provocadas por mudanças no contexto global, como variações nas taxas de juros, câmbio e cenário político, enquanto apenas 25% estão diretamente relacionadas à performance da gestão. No Brasil, onde a volatilidade econômica é ainda maior, esse percentual pode ser ainda menor, o que torna o desafio de criar valor ainda mais complexo.

Diante desse cenário desafiador, a responsabilidade da gestão se torna ainda mais crítica. Os princípios de criação de valor, embora simples, devem ser seguidos com rigor: aumentar o retorno dos ativos existentes, investir em projetos com retorno superior ao custo de capital e liberar caixa para os investidores quando não houver melhores oportunidades de investimento.

Esses pilares sustentam o ganho de capital e a distribuição de dividendos, métricas que afetam diretamente a capacidade da empresa de atrair capital a longo prazo e deveriam nortear a remuneração dos gestores. Na prática, muitas organizações acabam incentivando, de forma equivocada e, por vezes, inconsciente, os gestores a buscarem resultados de curto prazo, desviando o foco da criação de valor sustentável no longo prazo.

Embora métricas como ROE e ROI sejam amplamente utilizadas para medir eficiência, elas nem sempre capturam adequadamente os três principais motores de valor: lucratividade, crescimento e fluxo de caixa livre. Nesse contexto, o uso de um sistema de medição inadequado pode levar a decisões que destroem, em vez de criar valor. Métricas distorcidas frequentemente geram comportamentos contraproducentes, especialmente quando simplificam excessivamente o impacto de diversas atividades dentro da organização.

Por outro lado, medidas corretas impulsionam melhorias substanciais nas atividades-chave, fortalecendo a competitividade e aumentando o valor para os acionistas. O foco excessivo no crescimento dos lucros tem levado muitas empresas a investir em projetos de baixo retorno, comprometendo o valor. Em resposta, muitas adotaram métricas como ROE, ROI e EVA, que corrigem o uso excessivo de capital, mas podem desestimular reinvestimentos necessários. Como resultado, oportunidades de crescimento são perdidas e o valor deixa de ser criado.

A realidade é que não existe uma única métrica capaz de atender todas as necessidades de gestão. A criação de um sistema eficaz de medição de valor exige customização e uma compreensão profunda das particularidades de cada negócio, evitando consequências negativas. Quando bem aplicado, o sistema não apenas aprimora a performance organizacional, mas também alinha as decisões estratégicas e operacionais, guiando os líderes a tomar decisões informadas que aumentem efetivamente o valor para os acionistas.

O Sistema de Gestão e Medição de Valor atua como uma ponte eficaz, baseado na escolha de métricas adequadas, como o retorno sobre os ativos existentes, o retorno incremental sobre o custo de capital e o fluxo de caixa livre. Essas métricas garantem que as decisões estratégicas estejam sempre alinhadas ao objetivo de gerar valor de forma precisa, sem distorções.

A capacidade de desdobrar essas métricas por toda a estrutura organizacional, aliada à transparência e à integração entre as áreas da empresa, é essencial para que todas as ações operacionais estejam em sincronia com o objetivo de maximizar o valor para os acionistas.

Além disso, o alinhamento de incentivos desempenha um papel fundamental: a remuneração dos gestores deve estar diretamente vinculada à criação de valor.

Implementar um sistema de medição de valor é desafiador por natureza. Requer uma mudança de mentalidade nos gestores, que precisam se apropriar do processo e entender as métricas a fundo. Essa transformação deve se integrar a todos os processos gerenciais, do planejamento estratégico ao orçamento e à remuneração, garantindo que o sistema seja adotado em toda a organização.

A criação de valor é um processo dinâmico que envolve tanto a adoção de métricas eficazes quanto a transformação da cultura organizacional. O equilíbrio entre lucratividade, crescimento e fluxo de caixa livre é o principal desafio, e os gestores precisam das ferramentas certas para tomar decisões estratégicas que garantam a geração de valor de forma consistente e sustentável.

Apesar do entendimento difundido sobre a criação de valor, poucas empresas conseguem aplicar esses conceitos de maneira eficaz, resultando em uma incapacidade crônica de gerar valor sustentável. Esse problema reflete a falta de um alinhamento profundo entre as decisões estratégicas e a verdadeira criação de valor, deixando muitas empresas aquém de seu potencial e sacrificando o crescimento sustentável.

Nosso propósito é ajudar empresas e seus gestores a enfrentar o desafio de criar valor de forma sustentável, desenvolvendo sua capacidade de gestão por meio da implantação de um sistema integrado de gestão e medição de valor, que abrange desde o nível estratégico até o operacional.